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Unhas de Gel: qual as implicações para higienização das mãos?
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     As unhas artificiais, bem como o tamanho das unhas naturais dos profissionais de saúde sempre foram motivos de preocupação por parte dos controladores de infecção hospitalar, devido às evidências de que as mesmas abrigam um quantitativo considerável de microrganismos na sua parte inferior.

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     Trabalhos publicados desde o final dos anos 80 já demonstravam que unhas artificiais são extremamente perigosas para pacientes assistidos por profissionais que as utilizam, devido ao grande risco de transmissão de patógenos. Unhas artificiais e/ou longas estão descritas na literatura como possível fonte de infecção, contribuindo para ocorrência de surtos  nosocomiais e óbito de pacientes cirúrgicos.

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       No passado controladores de infecção eram colocados 'em cheque' pelos demais profissionais de saúde, com relação o uso ou não de esmalte nas unhas. Acreditava-se que o esmalte por si só poderia ser prejudicial ao paciente. Entretanto, há trabalho que demonstra que esmalte não tem qualquer impacto na assistência ao paciente, desde que esteja íntegro nas unhas.

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       Desde que o ser humano passou a usar unhas artificiais, o foco da discussão saiu do esmalte e passou a ser o tipo de produto utilizado nas unhas para torná-las mais longas e bem polidas. Nesse sentido, e inicialmente, as unhas de acrílico ganharam destaque no meio científico e mais recentemente unhas de gel passaram a ocupar o centro da polêmica.

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       Agora, quase três décadas depois, nos deparamos com o artigo abaixo publicado nesse mês de dezembro, onde as unhas de gel foram analisadas quanto a possível risco de transmissão de patógenos dentro do cenário assistencial - é possível garantir a adequada higienização das mãos sendo as unhas artificiais de gel?

 

        Antigo tema que volta agora com uma nova roupagem, para desespero dos controladores de infecção hospitalar.

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    Nesse estudo publicado no mês de dezembro, os autores tiveram como objetivo avaliar a carga bacteriana de unhas de gel, unhas com esmalte padrão e unhas naturais, nas mãos dos profissionais de saúde.

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  O estudo foi conduzido em três Centros Universitários simultaneamente - Nebraska, Califórnia e Indiana.

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 Profissionais de saúde que prestavam assistência direta ao paciente foram recrutados por email. Um técnico especializado em tratamento de unhas foi contratado e na mão dominante de cada voluntário, aplicou gel em uma unha, em outra unha esmalte padrão e as demais unhas ficaram naturais. Os profissionais voluntários foram orientados a não modificarem qualquer unha da mão dominante durante o estudo.

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    Swabs para cultura foram coletados de todas as unhas da mão dominante, no dia 1, 7 e 14 após a aplicação dos produtos. No dia 7, swabs para cultura foram coletados das unhas da mão dominante antes e após os profissionais higienizarem as mãos com álcool gel.

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    Dos 88 profissionais que entraram no estudo, 74 completaram todas as etapas. Desses, 86,4% eram do sexo feminino, 63,4% eram Enfermeiros, 27,3% eram do Centro Cirúrgico, o tempo de atividade na instituição era em média 7 anos e a média de idade dos participantes era de 40 anos.

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     As médias de UFCs [Unidades Formadoras de Colônia] aumentaram ao longo do tempo para todos os tipos de unhas, com diferenças observadas entre o dia 1 versus o dia 7 e o dia 1 versus dia 14 (p≤0,0001); no entanto, nenhuma diferença foi observada entre o dia 7 e o dia 14 (p=0,52). As médias de UFCs para os tipos de unhas são mostradas na Figura 1 [abaixo]. Quando as médias de UFCs ao longo do tempo foram comparadas por cada tipo de unha, apenas o dia 7 a unha de gel contra a unha com esmalte padrão foi significativamente diferente (p=0,012).

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     A eficácia da avaliação da higiene das mãos mostrou reduções significativas nas médias de UFCs para unhas naturais e unhas com esmalte padrão (p=0,001 e p=0,0028, respectivamente), mas não para unhas de gel (p=0,98). Contudo, não houve diferença significativa nas médias de UFCs para nenhum dos produtos aplicados nas unhas, após a higiene das mãos (p=0,25).

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     Os resultados deste estudo mostram que todos os 3 tipos de unha (unha natural, unha com esmalte padrão e unha de gel) tornam-se mais contaminados com bactérias ao longo do tempo, independentemente do produto ungueal aplicado. O nível de contaminação apareceu entre os dias 7 e 14 de desgaste dos produtos.

 

   As médias de UFCs não foram diferentes entre os produtos, com a exceção do esmalte padrão tendo maiores medições de UFCs do que o gel no dia 7.
 

     Dados coletados no dia 7 para análise de pré e pós higiene das mãos com álcool gel, mostram que álcool gel para higienizar as mãos foi mais adequado nas unhas com esmalte padrão e nas unhas naturais do que na unhas de gel.

 

    Uma das limitações desse estudo descrita pelos autores foi a amostra ser pequena.

 

      A contaminação bacteriana de produtos de unha é provavelmente multifatorial e pode ser influenciada pelas práticas de higienização das mãos no trabalho e no cenário doméstico, ocupação, comprimento das unhas e outras variáveis.
 

     Não existem recomendações que apoiem ou refutem o uso de unha de gel no ambiente de cuidados de saúde, e os dados apresentados neste estudo não indicam um aumento de microrganismos em profissionais de saúde que usam unhas de gel.

 

      A possibilidade que as unhas de gel podem ser mais difíceis de limpar usando álcool gel é um achado que deve ser verificado em um estudo maior. A importância de uma higiene eficaz das mãos nos cuidados de saúde não pode ser subestimado, independentemente do produto da unha usado pelos profissionais de saúde.

Am J Inf Control. Dez/2018; 46(12): 1356-59

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Gordin FM, Schultz ME, Huber R, Zubairi S, Stock F, Kariyil J. A cluster of hemodialysis-related bacteremia linked to artificial fingernails.

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Pottinger J, Burns S, Manske C. Bacterial carriage by artificial versus natural nails.

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