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Mais uma ameaça no Brasil:

novo parasita é identificado no Nordeste

      No último 30 de setembro foi anunciado na imprensa o surgimento de um novo parasita que já infectou ao menos 141 pessoas em Sergipe e levou a óbito um paciente até a presente data [06/Out/19]. Esse parasita vem sendo estudado desde 2011, mas somente agora os pesquisadores conseguiram as respostas que tanto buscavam sobre a identificação do patógeno. 

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    A descoberta foi feita por pesquisadores da Universidade de São Carlos, Universidade Federal de Sergipe e Universidade de São Paulo - Ribeirão Preto, e publicado de forma inédita no Emerging Infectious Diseases na edição de novembro/2019.

C fasciculata [1].jpg

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   O que se sabe até o momento é que o patógeno provoca no homem sinais e sintomas semelhantes aos da leishmaniose visceral, como febre, aumento do fígado e do baço; cuja doença é causada pelo protozoário Leishmania infantum.

 

   Entretanto, os pesquisadores logo viram que se tratava de outra enfermidade devido as lesões de pele generalizadas que os pacientes apresentavam, ao contrário da leishmaniose visceral que provoca lesões de pele localizadas. Outro fato que chamou atenção dos pesquisadores é que os pacientes não responderam ao tratamento convencional para leishmaniose, evoluindo com piora clínica ao longo de tempo.

"Estamos investigando outro caso, no qual o paciente também não respondia ao tratamento e perdemos contato com ele. Outro morreu recentemente, com achados clínicos fora do esperado. Estamos verificando se foi pelo mesmo parasita."

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Prof. Dr. Roque Pacheco Almeida

[Universidade Federal de Sergipe]

   Ao obter o sequenciamento genético completo do novo parasita, de fato, os pesquisadores constataram que se trata de um novo microrganismo, que o diferencia do Leishmania infantum, conforme características abaixo:

Leishmania infantum

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Parasita alongado, com flagelo ["cauda"] comprido

Genoma com 33 milhões de pares de "letras" de DNA

Novo parasita

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Parasita achatado de flagelo curto

Genoma com 54 milhões de pares de "letras" de DNA

     Os dados da análise filogenética, que permite construir árvores evolutivas com base de dados de sequenciamento, indicam que o protozoário recém-descoberto não pertence ao gênero Leishmania, composto por mais de 20 espécies causadores de três diferentes tipos de leishmaniose: visceral, cutânea e difusa [que causa lesões na pele e nas mucosas].

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"Do ponto de vista filogenético, a espécie analisada neste estudo está mais próxima da Crithidia fasciculata, um parasita de mosquito que não é capaz de infectar humanos ou outros mamíferos. Conseguimos infectar camundongos com ele e, por esse motivo, acreditamos se tratar de um novo protozoário, para o qual estamos propondo a nomeclatura Crithidia sergipensis."

Prof. Dr. João Santana da Silva

[Universidade de São Paulo - Ribeirão Preto]

   Crithidia fasciculata é um parasito encontrado frequentemente em vetores do tipo Anopheles [transmissor da malária] e do tipo Culex [pernilongo], e nunca infectou ser humano. Já o transmissor da leishmaniose visceral é do tipo flebotomíneo.

"O que a gente sabe é que, nesse grupo de protozoários, a transição em que a espécie deixa de ser um parasita que afeta apenas insetos e passa a infectar também vertebrados acontece nos casos em que o inseto se alimenta de sangue. Estudar esse protozoário pode ser uma ferramenta importante para entender como o salto acontece."

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Profa. Dra. Sandra Regina Costa Maruyama

[Universidade Federal de São Carlos]

   Crithidia fasciculata é um parasito encontrado frequentemente em vetores do tipo Anopheles [transmissor da malária] e do tipo Culex [pernilongo], e nunca infectou ser humano. Já o transmissor da leishmaniose visceral é do tipo flebotomíneo.

Flebotomíneo.jpg

Flebotomíneo

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Anopheles

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Culex

O Caso Índice

      O primeiro caso foi confirmado em um homem de 64 anos, atendido pela primeira vez no Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe (UFS) em 2011 com um quadro clássico de leishmaniose visceral: febre, aumento do baço e do fígado e diminuição de todos os tipos de células sanguíneas (pancitopenia). O paciente infelizmente não resistiu e veio a óbito.

“Ele recebeu o tratamento padrão e melhorou, mas teve recaída apenas quatro meses depois. Foi então tratado com a melhor droga disponível para esses casos – a anfotericina B lipossomal – e respondeu, mas oito meses depois teve nova recidiva. Desta vez, desenvolveu pápulas avermelhadas na pele, disseminadas por todo o corpo, algo que não vemos em leishmaniose visceral.

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Infelizmente, com as recidivas, falhas terapêuticas sucessivas e a disseminação da doença para a pele, o paciente veio a falecer após a cirurgia para retirada do baço, recomendada em casos graves que não respondem ao tratamento.”

Prof. Dr. Roque Pacheco Almeida

[Universidade Federal de Sergipe - Chefe do Laboratório de Biologia Molecular do Hospital Universitário]

     Uma biópsia feita nas lesões cutâneas revelou células de defesa repletas de parasitas, que foram isolados e criopreservados para análise. Os pesquisadores também isolaram amostras da medula óssea (durante a segunda e a terceira recidivas) e do baço (após a remoção cirúrgica).

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     Inicialmente, o grupo imaginou se tratar de uma infecção atípica por Leishmania infantum. No entanto, os testes moleculares existentes para o diagnóstico desse patógeno foram todos inconclusivos nas análises feitas com os parasitas isolados tanto da medula óssea, quanto das lesões da pele.

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    Camundongos infectados com a amostra isolada da pele do paciente desenvolveram lesões cutâneas e uma leve lesão no fígado. De maneira surpreendente, a infecção experimental com o novo parasita foi mais agressiva na pele que a dos animais usados como controle positivo (infectados com a espécie Leishmania major, causadora de leishmaniose cutânea). Já os animais infectados com o parasita da medula óssea apresentaram as manifestações típicas da leishmaniose visceral, como fígado e baço infectados, mas sem qualquer alteração na pele.

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     Na tentativa de descobrir com o que exatamente estavam lidando, os pesquisadores decidiram fazer uma análise do genoma completo dos parasitas isolados do paciente.

José_Marcos_Ribeiro.jpg

   As análises de bioinformática que revelaram a proximidade filogenética da nova espécie com a Crithidia fasciculata  foram conduzidas também nos Estados Unidos por José Marcos Ribeiro, do National Institute of Allergy and Infectious Diseases (NIAID).

    Agora os pesquisadores correm contra o tempo com o objetivo de responderem as diversas outras questões, antes que novos casos fatais ocorram.

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1. Como surgiu esse patógeno? Foi cruzamento da leishmania com outro gênero ou foi mutação genética que conferiu à Crithidia a capacidade de infectar mamíferos?

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2. Qual fármaco é capaz de matar de forma eficiente o novo parasita?

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3. O novo parasita - Crithidia sergipensis é capaz sozinho de causar doença grave e fatal em humanos ou ele forma dupla infecção nos pacientes e apenas contribui para o agravamento da leishmaniose visceral?

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4. Quais vetores são passíveis de transmitir o Crithidia sergipensis?

Fontes:

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