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Os Humanos com seus Pets [e outros animais] e o Mundo Microbiano

    Há quase duas décadas a Organização Mundial da Saúde [OMS] lançou seu relatório - "Overcoming Antimicrobial Resistance (2000)", com o objetivo de chamar a atenção dos seus países signatários para a questão da resistência microbiana, que naquela época já era bastante preocupante.

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     Um dos fatores contribuintes para o desenvolvimento de resistência microbiana, apontado pela OMS no documento foi o uso indiscriminado de antibióticos na medicina veterinária. Emergência de cepas bacterianas multidrogas resistentes na área veterinária [gado, aves, psicultura, etc], já era tema de debates e publicações na virada desse milênio.

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       Desde então até os dias atuais, ao que parece, a emergência dos mecanismos de resistência por parte dos patógenos avançou consideravelmente não só na medicina humana como na veterinária, e muitos trabalhos tem sido publicados no sentido de entender as dinâmicas de transmissão desses mecanismos, e dos próprios patógenos, entre humanos e animais.

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     Abaixo o resumo de dois artigos publicados no periódico científico PLoS ONE, respectivamente em janeiro e fevereiro de 2018, sobre esse tema.

     “Cavalo de Tróia” - trata-se de um estudo de prevalência prospectivo realizado na Clínica Veterinária para Cavalos da ‘Freie Universität Berlin’ [Alemanha], e tinha como objetivo determinar a taxa de colonização por Enterobactérias ESBL, Acinetobacter baumannii e Salmonella sp, em cavalos admitidos doentes com ‘cólica’ ou ‘feridas abertas’.

 

      Os dados foram coletados em dois períodos – de abril a outubro de 2014 e em 2015. Cavalos que entraram no estudo foram aqueles que atendiam os critérios de inclusão: sinais e sintomas acimas descritos e permanência no mínimo de 24 horas na clínica.

 

     No ato da admissão foram coletados swabs das narinas anteriores e das feridas abertas dos equinos, bem como amostra de fezes dentro de no máximo 2 horas após internação. Questões éticas foram consideradas p/ o estudo, análises estatísticas foram conduzidas no software SPSS; procedimentos moleculares foram conduzidos para tipagem dos isolados bacterianos, etc.

      Dos 341 cavalos incluídos no estudo, a média de duração da internação foi de 7,8 dias. Dos 340 swabs nasais válidos, 2,6% foram positivos para Enterobactérias ESBL e 1,5% foram positivos para A. baumannii. Do total de 318 amostras fecais, 10,7% foram positivas para Enterobactérias ESBL, 1,4% foram positivas para A. baumannii e nenhuma amostra foi positiva para Salmonella sp. Detecção de Enterobactérias ESBL nas narinas anteriores de equinos podem representar contaminação prévia (ambiental), especialmente casos de cólica, onde a intubação nasogástrica é um procedimento padrão.

    Os autores concluem que forneceram evidências de uma alta taxa de introdução de patógenos MDR transferíveis em um cenário clínico amplo para pacientes equinos, mostrando claramente os desafios atuais de controle de infecção e segurança no local de trabalho para o pessoal veterinário. Consequentemente, a pesquisa é justificada em relação às fontes originais de Escherichia coli produtora de ESBL [a principal bactéria encontrada no estudo] na medicina equina. Considerando situação atual da medicina veterinária, parece claro que mais ênfase na prevenção é necessária para a segurança dos pacientes veterinários e do pessoal e comunidade, em especial no que diz respeito à transferência geral zoonótica dos agentes patogénicos causando infecções em cavalos.

PLoS ONE. Jan/2018; (13)1: e0191873

     Trata-se de um inquérito nacional realizado nos 16 estados da Alemanha, para detectar o potencial de transmissão zoonótica na comunidade, da bactéria Clostridium difficile entre cães e gatos [pets] e seus donos.

 

     Enquanto idade, hospitalização e uso prévio de antibiótico são fatores de risco para infecção por C. difficile em humanos, fatores associados com isolamento de C. difficile em cães e gatos ainda permanecem amplamente desconhecidos.

     O inquérito foi conduzido no período de julho de 2012 a agosto de 2013 através de amostra por conveniência.

 

      Para entrar no estudo no mínimo um cão ou um gato e no mínimo um dono deveriam morar na mesma casa, morar na Alemanha, assinar o termo de consentimento, responder todo questionário e fornecer uma amostra de fezes do pet e do dono. O questionário para o pet cobriu fatores demográficos como: raça, idade, sexo e se o animal era castrado, além de detalhes da criação e se frequentava lugares diferentes regularmente.

    O questionário para o dono do pet contemplava dados demográficos como: idade, gênero, profissão, ambiente residencial, se havia crianças e/ou pessoas com doenças crônicas nessa casa ou com infecção por C. difficile ou em quimioterapia. Para ambos – pet e dono – foram coletadas informações adicionais sobre a relação entre eles, como contato, intensidade do contato incluindo o físico, consumo de ração/alimentos, quadro de diarreia anterior, uso de antibiótico, hospitalização, etc.

     Análises estatísticas foram conduzidas no software STATA, os Odds Ratio [OR] calculados para verificar a associação entre a potencial exposição e desfecho, procedimentos moleculares foram conduzidos para caracterização dos isolados de C. difficile, etc.

     Um total de 415 casas foram incluídas no estudo, assim como 1.418 amostras fecais [59,2% de pet e 40,8% do indivíduo]. Clostridium difficile foi isolado em 3,0% das amostras fecais de pets e 2,9% de amostras fecais do indivíduo.

 

  Na análise multivariada, os principais fatores de riscos associados a C. difficile encontrado nas fezes dos pets foram: uso de antibióticos nos 3 meses anteriores ao estudo [OR 4,13; IC95% 1,44-11,84; p=0,008] e contato com humano com diarreia [OR 2,94; IC95% 1,01-8,60; p= 0,048]. Um forte fator de proteção dos pets p/ não colonizarem por C. difficile foi ‘consumo de alimento seco’ [OR 0,13; IC95% 0,04-0,42; P=0,001].

      Em conclusão, ribotipos humanos [RTs] bem conhecidos como RT 010, a linhagem associada ao hospital RT014/0 e os RTs potencialmente virulentos 027 e 078 também ocorrem em gatos e cães sugerindo menos uma fonte comum de infecção. Além disso, fatores de risco previamente descritos para C. difficile colonização ou infecção em humanos também se aplicam aos pets. Para definir possíveis fontes de aquisição de C. difficile e para esclarecer o seu caráter zoonótico, estudos posteriores envolvendo humanos e animais são necessários.

PLoS ONE. Fev/2018 ; (13)2: e0193411

Acesse o  1º artigo

Vale a pena conferir os dois artigos, os quais trazem muito mais detalhes!

Acesse o  2º artigo

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